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Teologia de Gn 1,1-2,4a (IX)

01 set

“O Verbo” – n° 236 – 2ª quinzena de Outubro 2006

Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra’. Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus Ele o criou, homem e mulher Ele os criou (Gn 1,26-27).

 

O ser humano é a oitava obra da criação. Nessa última obra, temos múltiplas e significativas variações. Por exemplo: o hagiógrafo, diversamente do que ocorreu até aqui, apresenta a Deus deliberando consigo mesmo, antes de realizar essa obra, e convida a Si próprio a criar o homem.

 

Façamos (v. 26): “Não parece ser um ‘plural majestático’, e não se explica também pelo simples fato que o nome Elohin (Senhor) é um plural quanto à forma, pois é usado quase sempre como nome próprio do verdadeiro Deus e acompanhado normalmente de um verbo no singular. Embora seja raro em hebraico, parece que temos aqui um ‘plural deliberativo’: quando Deus, ou outra pessoa, fala consigo mesmo, a gramática hebraica parece aconselhar o emprego do plural. O grego (seguido pela Vulgata) do Sl 8,6, retomado em Hb 2,7, por exemplo, compreendeu esse texto como uma deliberação de Deus com sua corte celeste, com os anjos. Este plural era, assim, uma porta aberta para a interpretação dos Padres da Igreja, que viram já aqui sugerido o Mistério da Trindade” (R. de Vaux). Essa forma plural do verbo na primeira pessoa na boca de Deus aparece apenas em Gn 3,22; 11,7 e Is 6,8. Em todos esses casos se trata de um plural deliberativo, exprimindo o fato psicológico de uma pessoa, no ato de tomar uma decisão, desdobrar-se mentalmente em duas, uma que dá o conselho, sugestão ou exortação, e a outra que o recebe.

 

O homem (‘ãdãm): Trata-se de um nome coletivo, exprimindo o gênero humano, daí o plural: que eles dominem. O homem deve ser criado como imagem nossa. Isto é, o ser resultante desta nova criação será uma imagem, uma estátua viva da Divindade.

 

Conforme a nossa semelhança. “Semelhança” parece atenuar o sentido de “imagem” excluindo a paridade. Ora, o termo concreto “imagem” implica uma similitude física. Essa relação com Deus separa o homem dos animais. Em que consiste aqui a relação de semelhança entre Deus e o homem, isto foi entendido de diversas maneiras: a explicação mais natural é a que vê nela a natureza espiritual do homem. A semelhança com Deus é aquele algo no ser humano que o faz superior aos animais, dá-lhe o direito de dominá-los e, diversamente deles, assegura-lhe o direito à inviolabilidade da própria vida. Alguns teólogos vêem aí uma referência ao fato de que o ser humano, por ser dotado de inteligência e vontade, pode entrar ativamente em relação com Deus. Entretanto, para outros estudiosos, o homem seria a imagem de Deus porque recebe Dele um poder sobre os outros seres vivos. Assim, inteligência, vontade e poder equivaleriam à afirmação: o ser humano é pessoa. Prepara-se assim uma revelação mais elevada: participação da natureza pela graça (Santo Tomás de Aquino). Continua…

 

Padre Lucas

 

 

 
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Publicado por em setembro 1, 2008 em Biblia, Estudo Biblico, genesis

 

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